Gênero e Direitos Humanos na GIZ Brasil

Todos os projetos da GIZ no Brasil e no mundo consideram gênero e direitos humanos em suas ações, tanto na perspectiva de proteção de grupos socialmente minorizados, quanto na de promoção da diversidade e da equidade de gênero.


Veja abaixo algumas de nossas ações e atividades voltadas para estas temáticas nas áreas de energias renováveis, transformação urbana e mudanças climáticas:

Publicações 

Guia rápido de Linguagem Inclusiva e Não Sexista

Análise de Gênero Projeto Luz do Saber

Revista Profissionais para Energia do Futuro

Pesquisa Barreiras e Oportunidades para Mulheres no Setor de Energia Solar

Cartilha Gênero e Energia – Sustentabilidade para escolas municipais de Porto Alegre

Edição Especial de Gênero da Newsletter IKI

Transversalizando la perspectiva de género en proyectos de acción climática: caja de herramientas

Estrategia Nacional de Movilidad Activa con enfoque de género y diferencial do Ministério de Transportes de Colômbia

5º Newsletter “Transformação Urbana no Brasil”

Ação Coletiva Interligadas

Eventos

Webinar “Gestão de RSU: perspectivas sociais e de gênero para promoção da economia circular” (2022)

Workshop “Energia e Equidade de Gênero” com Prefeitura de Porto Alegre (RS)

Webinar “As mulheres na Energia Renovável”  do COGEMMEV (2021)

Conferência “Women Energize Women”

Painel organizado pela  rede Women in Green Hydrogen no Brazil Green Energy Summit

Teaser de divulgação do “Elas Conectam” – Intersolar 2021

Rede de Mulheres no Setor

Apoio a Rede MESol

Apoio a Rede Mulheres do Biogás

Iniciativa Lideranças Femininas Urbanas

Apoio ao programa de mentorias da GWNet

Campanhas

Vídeo de divulgação sobre a “Mentoria de Mulheres para Eficiência Energética”

Vídeo de divulgação sobre profissionais do setor energetico – “Mulheres de Energia” 

Mulheres conectadas para impulsionar a energia solar

Por Sandra Damiani (Sapopema Comunicação Socioambiental)

Ilustração: Carmen San Thiago / Cajuí Comunicação

O mercado de energias renováveis é um dos setores que mais cresce no mundo, gera empregos e oportunidades de desenvolvimento socioeconômico e benefícios também ambientais, mas ainda é bastante desigual a participação de homens e mulheres no setor. Segundo a pesquisa da Greener de 2020, 40% das empresas de energia solar no Brasil não possuem mulheres em seu quadro de funcionários. O desejo de mudar esse cenário excludente instigou cinco protagonistas a criarem a Rede de Mulheres na Energia Solar (Rede Mesol), iniciativa que recebe o apoio da GIZ Brasil por meio do projeto Sistemas de Energia do Futuro (ESZ), que estimula a integração das energias renováveis na matriz energética brasileira.

Depois de assistirem a um webinário sobre redes da Sociedade Internacional de Energia Solar, cinco pesquisadoras de energias renováveis do Sul do Brasil conversaram sobre sua realidade: eram minoria no setor e, muitas vezes, desrespeitadas em campo. Surgiu então a curiosidade de conhecer outras mulheres que atuavam neste ramo no Brasil e suas experiências. Como voluntárias, elas organizaram o 1º Encontro de Mulheres na Energia Solar que contou com 30 participantes presenciais e transmissão on-line, atualmente com mais de 1 mil visualizações. Deste encontro, nasceu a Rede Mesol, com 285 mulheres no Grupo do WhatsApp e mais de 1,8 mil seguidoras nas mídias sociais.

Preconceito e superação – A história de Kathlen Schneider, cofundadora da Rede Mesol, ilustra a necessidade de tornar esse mercado mais inclusivo e a importância de conectar as mulheres que trabalham com energia solar. Ainda na graduação ela teve que descobrir sozinha como poderia abrir espaço para trabalhar com sustentabilidade na engenharia civil. A área é predominantemente masculina, havia seis vezes mais homens em sala de aula, e pouco se falava em novos mercados de atuação e inovação com foco na sustentabilidade.

Ao buscar por oportunidades no campus, ofereceu-se como voluntária no Laboratório de Eficiência Energética em Edificações da Universidade Federal de Santa Catarina onde foi bolsista de iniciação científica. Foi depois da convivência com mulheres de outros países em intercâmbio na Nova Zelândia que ela percebeu mais claramente toda a desigualdade de gênero neste setor no país.

“Eu tive dificuldades na faculdade de engenharia, passei por muito preconceito, sendo minimizada, ouvindo piadas sobre o corpo, sobre ser bonita e nunca sobre minha inteligência. A gente vai se masculinizando para seguir em frente. Ainda assim, me considero privilegiada. A realidade é ainda mais difícil para a maioria das mulheres sem o mesmo acesso ao ensino, de baixa renda e negras”, conta. Ouvidas em pesquisa pela Rede Mesol em 2019, 64% das profissionais do setor afirmaram que já ouviram comentários sexistas e 49% já sofreram discriminação no ambiente de trabalho por ser mulher.

A GIZ Brasil aproximou a organização de mulheres no Brasil de outras redes, como a Rede Global de Mulheres para a Transição Energética (GWNet), na qual Schneider, passou por um programa de mentoria ao longo de um ano na África do Sul, apoiado com recursos do projeto ESZ. “A GIZ foi muito importante para fazer as ideias acontecerem. Foi incrível a dimensão que a rede tomou”, avalia Schneider, atualmente na direção do Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas na América Latina (IDEAL).

Em 2021, a Rede Mesol realizou, em conjunto com a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro (AHK-RJ), com apoio do C40 Cities Finance Facility (CFF) e GIZ, a pesquisa “Energia solar no Brasil: quais são as barreiras e oportunidades para mulheres profissionais do setor?”. O estudo mostrou que as mulheres ingressam no mercado de energia solar mais jovens e tendem ter maior escolaridade do que os homens, mas recebem, em média, 31% menos que seus colegas de trabalho. Quase a totalidade delas (92%) indicou haver barreiras e desafios para permanecerem no setor, tais como machismo e preconceito, falta de informações e oportunidades, além de pouco acesso aos cargos de liderança. A desigualdade racial também é evidenciada. Do universo de participantes, apenas 30% das respondentes do estudo são negras.

A partir das ações da Rede Mesol, as profissionais da energia solar estão começando a se conhecer, se conectar, e até mesmo se indicar para trabalhos. Muitas parcerias de mulheres que desenvolveram projetos juntas surgiram no grupo de WhatsApp. “As mulheres começam a se sensibilizar mais sobre o seu contexto e lutar por uma realidade diferente. A gente espera que as próximas gerações encontrem um lugar mais igualitário”, diz. Para isso, foi lançada a campanha Mulheres de Energia no YouTube, em parceria com a GIZ, para incentivar a entrada de meninas jovens em áreas de estudo superior que levam a uma futura atuação no setor.

A equidade de gênero com a inclusão das mulheres cis e transgênero também traz novos olhares para fazer frente aos desafios ambientais globais. “A gente precisa urgentemente encontrar soluções para as mudanças climáticas e se continuarmos a fazer as mesmas coisas do mesmo jeito a gente não vai chegar a lugares diferentes. Trazer visões mais diversas, mais mulheres e pessoas em contextos sociais, econômicos e ambientais diversos, traz soluções diferentes, e enriquece as ideias, propostas e soluções.”

Projeto: Sistemas de Energia do Futuro (ESZ)
Parceiro: Ministério de Minas e Energia (MME)
Financiador: Ministério Federal Alemão para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento (BMZ, em alemão)

Ilustração: Carmen San Thiago (Cajuí Comunicação)

Empoderamento para pescadoras artesanais

Por Sandra Damiani (Sapopema Comunicação Socioambiental)

Pescadoras artesanais, marisqueiras e extrativistas criaram, com o apoio da GIZ Brasil, uma rede de mulheres na região da Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais, em Alagoas, uma das maiores faixas contínuas de recifes de corais do mundo onde vivem milhares de famílias em mais de 40 comunidades . A iniciativa foi liderada por 31 mulheres extrativistas costeiras e marinhas que participaram de um seminário sobre pesca artesanal, promovido pela GIZ. A partir daí, colocaram sua energia para levar as discussões sobre direitos humanos para outras mulheres da região com uma realidade semelhante de muito trabalho, baixa escolaridade, pouca visibilidade e um grande desejo de transformação em suas comunidades.

Ilustração: Carmen San Thiago (Cajuí Comunicação)
Ilustração: Carmen San Thiago (Cajuí Comunicação)

Em poucos meses, mais de 400 mulheres estão envolvidas para consolidar a Rede de Mulheres Pescadoras da Costa dos Corais e participar ativamente nas políticas públicas e nas decisões que afetam suas comunidades. O desencadeador deste movimento foi uma série de capacitações que incluíram também as comunidades tradicionais do Arquipélago de Abrolhos, na Bahia, o mais importante berçário das baleias jubartes do Atlântico Sul, com o envolvimento de 700 mulheres. A organização destas mulheres possibilitou a criação de um espaço de vendas on-line numa plataforma virtual onde as pescadoras conseguem vender seus produtos pesqueiros. Elas esperam poder comercializar também seus artesanatos, óleos beneficiados e serviços de turismo de base comunitária, atividades tradicionais sustentáveis que asseguram qualidade de vida e são aliadas da conservação da rica biodiversidade costeira local.

Projeto: Proteção e Gestão Integrada da Biodiversidade Marinha e Costeira – Projeto TerraMar
Parceiro: Ministério do Meio Ambiente (MMA)
Financiador: Ministério do Meio Ambiente, Conservação da Natureza, Segurança Nuclear e Defesa do Consumidor (BMVU, em alemão)

Ilustração: Carmen San Thiago (Cajuí Comunicação)

Mulheres pescando liberdade

Por Elisa Malta (GIZ Brasil)

Ilustração: Carmen San Thiago (Cajuí Comunicação)
Ilustração: Carmen San Thiago

Isabel Chagas aprendeu na infância a profissão que exerce hoje. Desde pequena observava e acompanhava sua família na atividade que já era, sem ela saber, a atividade da sua vida. “Acompanho minha mãe para pescar desde os seis anos de idade. Íamos para o mangue tirar marisco e ostra e vender na feira, fazendo de tudo um pouco.”, conta. Aos 54 anos, Isabel continua vivendo da pesca e tem nos peixes e mariscos a principal fonte de sustento de sua família. Nascida em uma família de sete irmãos, Natália Santos começou cedo a pescar com seu pai. Na adolescência, chegou a trabalhar em cozinha, mas percebeu que o que gosta mesmo é da pesca.

Isabel e Natália são algumas das mulheres pescadoras que vivem de várias atividades ligadas à pesca artesanal na região da Costa dos Corais. A maior parte dessas mulheres se dedica à mariscagem, captura de caranguejos, pesca com varas ou redes, além de preparar e vender a produção. Além disso, são responsáveis pelas atividades domésticas e pelos cuidados com os filhos. Envolvidas com tantos afazeres para garantir o sustento e bem-estar de suas famílias, muitas dessas mulheres não tinham sequer a noção de que ser pescadora é sua profissão. “Trabalho com o cultivo de ostras e não entendia meu trabalho como pesca, nem sabia que existiam mulheres na pesca. Imaginava que eram só homens nesse trabalho.”, relata a pescadora Jaqueline dos Santos.

Pescadoras e pescadores tradicionais são, em grande parte, invisibilizados no Brasil e têm participação limitada em processos decisórios políticos. Essa situação afeta, particularmente, as mulheres pescadoras e também aquelas que processam ou comercializam produtos da pesca.

Encontro transformador – Em 2018, ao participar de um seminário do Projeto TerraMar sobre pesca artesanal, essas mulheres começaram a mudar o seu destino. Naquele encontro, apesar da maioria dos participantes ser formada por homens, as mulheres se uniram nas discussões de grupo. A proximidade entre elas foi tanta que elas pediram apoio ao TerraMar para se fortalecer. Começava ali a história da Rede de Mulheres Pescadoras da Costa dos Corais.

Com o apoio da GIZ Brasil, cerca de 400 mulheres foram envolvidas em um processo formativo para aprimorar o conhecimento de seus direitos, a valorização de sua identidade e cultura e o pertencimento à categoria de população tradicional. Durante seis meses, participaram de seminários, oficinas e palestras que deixaram as mulheres não apenas mais unidas, mas também mais fortes e preparadas, conhecendo seus direitos e entendendo melhor seus papéis na comunidade. Alguns benefícios dessa formação já podem ser vistos. Natalia ressalta que os encontros proporcionaram mudanças para toda comunidade. “A Rede nos fez ficar mais empoderadas e confiantes e nos deu conhecimento sobre educação ambiental na pesca, e isso vai ajudar na sustentabilidade de várias famílias.”

O processo de criação da Rede de Mulheres trouxe também vários ensinamentos sobre a possibilidade de articulação de mulheres, que pode colaborar tanto para a manutenção e o desenvolvimento da própria Rede quanto para outros projetos que visam a organização e o fortalecimento de coletivos femininos.

As mulheres se sentiram mais capazes de ocupar espaços. Estão se posicionando e têm mais clareza de sua importância na pesca artesanal. Agora, não estão apenas nos espaços para apoiar os maridos pescadores, mas porque são pescadoras também. Ganharam força para conquistar esse lugar de fala que antes era impossível.

Para conhecer mais sobre a história da Rede de Mulheres Pescadoras da Costa dos Corais, leia a publicação Mulheres Pescando a Liberdade – A criação da Rede de Mulheres Pescadoras da Costa dos Corais: visibilidade e fortalecimento a partir de um sonho coletivo.

Projeto: Proteção e Gestão Integrada da Biodiversidade Marinha e Costeira (TerraMar)
Parceiro: Ministério do Meio Ambiente
Financiador: Ministério do Meio Ambiente, Conservação da Natureza, Segurança Nuclear e Defesa do Consumidor (BMUV, em alemão)

Nós existimos! Conheça a Plataforma de Territórios Tradicionais

Jhony vive no Mato Grosso do Sul entre montanhas e cachoeiras, em uma comunidade quilombola que tem a agricultura familiar como principal base de alimentação. Um local que mantém sua riqueza natural e cultural. “Nosso território é nossa casa, nosso meio de vida, é nossa ancestralidade, é nosso ser.”, afirma. Distante 2.600 km, mora Alicia, cercada de manguezais e mangabas e lutando pela garantia e preservação das áreas nativas da região. “A gente cuida do nosso território para que nossos filhos, nossos netos e nossos bisnetos continuem vivendo, existindo e resistindo.”

Etnias, ecossistemas, territórios, costumes, histórias e realidades diversas. Apesar disso, desejos em comum. Povos e comunidades tradicionais buscam o reconhecimento e a proteção de seus direitos. O quilombola e a catadora de mangaba são uns dos representantes de diferentes povos e comunidades tradicionais entrevistados pelo Projeto Territórios Vivos. A escuta buscou entender o que significa território para cada uma dessas pessoas, conhecer um pouco da sua história e saber o que a Plataforma de Territórios Tradicionais representa para esses grupos.

A Plataforma é um ambiente online que reúne informações sobre territórios tradicionais do Brasil, possibilitando integração entre as comunidades, reconhecimento e acesso a políticas públicas. Para Jhony, Alicia, Arildo, Maura e tantas outras pessoas é a oportunidade de dizer: nós existimos.

Projeto: Terrítórios Vivos
Parceiro: Ministério Público Federal
Financiador: Ministério Federal Alemão para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento (BMZ, em alemão)

Ilustração: Carmen San Thiago (Cajuí Comunicação)

Lideranças indígenas femininas soltam a voz pela governança inclusiva

Por Sandra Damiani (Sapopema Comunicação Socioambiental)

Ilustração: Carmen San Thiago (Cajuí Comunicação)

Guerreiras, mães e guardiãs da cultura e dos saberes ancestrais, as mulheres indígenas querem abrir espaço para participação conjunta com os homens nas decisões de seus povos. A indígena Eliane Xunakalo, do povo Bakairi, vive uma rotina intensa em longos trajetos que podem levar dias até chegar a aldeias distantes para visitar diferentes povos espalhados pelo Mato Grosso, estado amazônico com dimensão equivalente a quase três vezes a Alemanha. Com duas pós-graduações, ela conseguiu romper com as limitações de acesso ao ensino impostas aos indígenas e atua com assessora institucional da Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Mato Grosso (Fepoimt), em Cuiabá. Seu objetivo é organizar o Departamento de Mulheres, uma conquista que surge com o apoio da GIZ Brasil.

Assim como Eliane Xunakalo, as mulheres indígenas querem ter maior espaço de participação nas decisões e estão se organizando. Atualmente o estado tem nove associações de mulheres indígenas e uma representação estadual, a Organização de Mulheres Indígenas do Mato Grosso (Takiná, palavra em Karajá que significa estrela e só é pronunciada por mulheres).


“Na grande maioria é uma cultura patriarcal, então é difícil a mulher ter seu espaço, mas está mudando, há mulheres caciques, lideranças. É uma questão de educação e de entender que a gente não quer modificar a cultura, mas ter a oportunidade de influenciar e estar nas decisões porque ela (a mulher) também é parte da comunidade. Isso não vai prejudicar, ao contrário, vai trazer mais riqueza”, defende Eliane.

Apesar de ter mais mulheres indígenas estudando, o acesso às escolas fora das terras indígenas é difícil. Poucas têm acesso às universidades, que ficam longe das aldeias e implicam custos de alimentação, transporte e hospedagem. Em muitas aldeias, como aquelas no interior do Parque Indígena do Xingu, onde vivem 16 povos , uma viagem até a capital Cuiabá toma até 3 dias com uso de barco, carro e ônibus. “É uma luta para estudar. Eu estou conseguindo dar retorno não só para a minha comunidade, mas também para outros povos. Com o conhecimento que tenho eu consigo ajudar outras pessoas. Eu me sinto honrada”, diz Eliane Xunakalo.

Ela observa que questões culturais precisam ser respeitadas como o fato de a mulher indígena não se separar de seus filhos e do marido. O respeito a essas diferenças culturais criam as condições para a participação. “A gente não separa do filho pequeno. São especificidades que precisam ser compreendidas e apoiadas. A gente é indígena e mulher e não pode deixar de participar porque tem um filho”, reforça.

Processo pioneiro na consulta de povos indígenas

O grande impulso para o fortalecimento de lideranças indígenas femininas no estado aconteceu durante o processo de consulta pública do Programa REM-MT (REED Early Movers). A iniciativa busca reduzir o desmatamento florestal e as emissões de gases do efeito estufa com a compensação financeira pela conservação florestal, tendo os povos originários como um dos atores-chave, por serem os guardiões das maiores áreas conservadas de floresta amazônica.

A consulta pública durou mais de um ano e meio e foi pioneira no Brasil pelo cumprimento integral das recomendações da Convenção 169 da OIT. O processo envolveu a escuta e participação dos povos originários em diálogo direto com o poder público, expondo suas reivindicações para garantir a segurança dos territórios, a reprodução sociocultural de cada povo, e a manutenção da floresta em pé. Apesar de haver muitas oficinas mistas, as mulheres tinham pouca representação. “Trouxemos a ideia de uma oficina só para a mulheres. A GIZ Brasil ajudou a conseguir os recursos e, em minha opinião, esta foi a melhor oficina de todas com a participação de 250 mulheres”, conta Eliane Xunakalo.

No total, 1.500 indígenas de 42 povos participaram da consulta pública, realizada em doze oficinas de multiplicação e pré-consulta regionais. O objetivo foi a criação do subprograma indígena do Programa REM-MT que exigiu além de complexa logística para reunir os representantes de povos que vivem distantes uns dos outros, a contratação de tradutores e a elaboração de materiais informativos. As cartilhas para a oficina de mulheres tiveram ainda conteúdos exclusivos, entre eles, temas como violência doméstica.

Unir os povos indígenas de Mato Grosso em um processo de consulta pública é um enorme desafio. Para entender a riqueza cultural, este estado amazônico tem 50 mil indígenas de 43 etnias que falam 35 línguas, além daqueles em isolamento voluntário. O encontro destes povos que vivem afastados em mais de 70 terras indígenas só deu certo porque suas lideranças foram ouvidas e tiveram o apoio institucional do Programa REM-MT.

“Temos histórico de um Estado que não valoriza os povos indígenas. O REM deu oportunidade para a gente conversar com o Estado. Temos embates, mas reconhecemos que a GIZ Brasil faz esse papel de mediação para evitar possíveis conflitos e nos apoia porque as questões indígenas são complexas e não são compreendidas”, explica Eliane Xunakalo.

Confira o Relatório do II Encontro de Mulheres Indígenas do Mato Grosso.

Projeto: Programa REDD+ para Early Movers (REM)
Parceiros: Secretaria de Meio Ambiente do estado de Mato Grosso (Sema/MT), Secretaria de Meio Ambiente do estado do Acre (Sema/AC) e Instituto de Mudanças Climáticas do estado do Acre (IMC/AC), Ministério do Meio ambiente (MMA)
Financiador: KFW Banco de Desenvolvimento

A cidade é a solução

A cidade é tudo ao mesmo tempo. É onde a gente vive algumas das nossas melhores experiências e também um monte de problema que tira a gente do sério. Está tudo tão conectado e em movimento tão acelerado que às vezes surge a pergunta: como é que a gente vai melhorar tudo isso para ter a cidade que a gente quer? Nas cidades, tem que caber o que todo mundo pensa, mas cada cidade é única e o espaço que ela tem disponível também. Por isso, muitas vezes, não podemos ter tudo que queremos no mesmo lugar e ao mesmo tempo. Aí está o nosso grande desafio. Será que a gente vai conseguir promover mudanças tendo uma relação de mais equilíbrio e de mais respeito com nosso planeta? O vídeo da Transformação Urbana da GIZ Brasil leva você direto para o coração dessas questões.

A transformação urbana é um dos temas centrais da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável. Conheça as principais abordagens e iniciativas nessa área implementadas pela GIZ no Brasil e seus parceiros.

Ecossistemas em favor das pessoas

Por João Gonçalves e equipe ProAdapta

Ilustração: Carmen San Thiago

Só quem já vivenciou de perto as consequências de eventos climáticos extremos, sabe os impactos que eles podem causar e a importância de ações que minimizem seus danos. É o caso dos moradores do Monte Serrat, na cidade de Santos, uma área de encosta ocupada de maneira irregular, que historicamente sofre com deslizamentos de terra.

O líder comunitário e morador do Monte Serrat, Arquimedes de Souza, conta que os deslizamentos de 2020 foram assustadores e que hoje em dia, todo trovão e chuva o deixa assustado e preocupado. Ele viveu na pele os problemas dos deslizamentos ajudando ativamente os atingidos, incluindo sua irmã e sua tia, rememorando passagens semelhantes da infância quando sua família e toda a comunidade se ajudavam como podiam.  

Os temporais de 2020, ainda frescos na memória de Arquimedes, além de terem sido os mais intensos dos últimos 80 anos em Santos, foram os que causaram maiores danos para a comunidade. O impacto destes eventos se deve a ocorrência de chuvas cada vez mais intensas em um terreno fragilizado pela substituição da vegetação nativa por ocupações irregulares.

Em realidades como a do Morro de Monte Serrat, a implementação de medidas de adaptação à mudança do clima tem papel fundamental para a redução dos danos e o enfrentamento da nova realidade climática. Intervenções para aumentar a estabilidade das encostas por meio da restauração da cobertura vegetal são opções de adaptação que recebem o nome de Adaptação baseada em Ecossistemas (AbE). A AbE utiliza a capacidade dos próprios ecossistemas em fornecer os chamados serviços ecossistêmicos ou “infraestrutura verde” para reduzir as vulnerabilidades e podem ser complementares às medidas “cinzas” ou de infraestrutura convencional.  

Em parceria com a Prefeitura Municipal de Santos, o Projeto ProAdapta trabalhou junto com moradores e moradoras do Monte Serrat para implementar ações de AbE. Por meio de oficinas de trabalho e outras atividades, as pessoas foram sensibilizados no tema e propuseram, de maneira ativa e coletiva, medidas efetivas como o plantio de espécies nativas e frutíferas de médio porte e raízes profundas nas áreas mais expostas. Além de conter as encostas, a ação traz diversos cobenefícios como a melhora do conforto térmico por meio do sombreamento e potencial de geração de renda para a comunidade por meio da produção de frutas, ao mesmo tempo que embelezam a paisagem e são uma fonte de lazer para a população. Mais do que novas árvores, a ação despertou o sentimento de pertencimento coletividade, culminando na criação pela população da campanha “Vamos cuidar do nosso morro?”.

“O que me mantém animado em permanecer no Monte Serrat, é reflorestar as encostas, para manter elas saudáveis e o cuidado com as árvores de grande porte que estão próximas de moradias. A gente poder tirar proveito dessa terra que a gente tem aqui, com horta comunitária com árvores frutíferas de pequeno porte. Porque nos assusta termos muito pé de jaca ou abacate…. É gostoso comer a jaca, mas morar embaixo de um pé de jaca… Eu já morei. É assustador!”, disse Arquimedes.

As ações promovidas no Monte Serrat também tiveram a preocupação de empoderar a comunidade local e fomentar a igualdade de gênero. Além da participação igualitária de mulheres nos encontros. A quituteira Cícera Juca de Oliveira Silva, por exemplo, ficou responsável pelo fornecimento da alimentação para os participantes das oficinas. Moradora há trinta anos de umas das comunidades do Monte Serrat, Cícera descia o morro diariamente para vender seus salgados e doces no Centro de Santos. Com a pandemia da Covid-19, ela teve que se reinventar e o trabalho de mais de 15 anos passou a ser por encomendas. A solicitação do ProAdapta foi o primeiro pedido de evento atendido pela quituteira. “Foi uma oportunidade para a gente que mora aqui na comunidade. Tem muita gente aqui que faz coisa muito boa, mas o pessoal procura de fora porque acha que é melhor. Gostaria que o pessoal valorizasse mais a gente, porque aqui é muito bom”, afirma Cícera, ela mesma moradora de uma região de encosta que já teve uma irmã atingida por deslizamentos de terra. “Em 2019, foi muito feio para a minha irmã. Ela perdeu a casa com tudo. A gente fica insegura, apesar da minha casa ser bem segura, porque meu esposo a construiu e ele fez bem-feito mesmo. Tem que cair muita chuva para derrubar a casa!” Será?

A abordagem de Adaptação baseada em Ecossistemas (AbE) no Monte Serrat irá proporcionar o retorno da fauna, a proteção das íngremes encostas e a segurança da comunidade. E o que floresce, multiplica: com o apoio da GIZ Brasil, as medidas serão replicadas em outras comunidades e bairros com problemas semelhantes na Baixada Santista.

Projeto: ProAdapta – Apoio ao governo do Brasil na implementação da sua Agenda Nacional de Adaptação à Mudança do Clima
Parceiro: Ministério de Meio Ambiente (MMA) e Prefeitura Municipal de Santos
Financiador: Ministério do Meio Ambiente, Conservação da Natureza, Segurança Nuclear e Defesa do Consumidor (BMUV, em alemão)

Audiovisual como ferramenta de conhecimento e luta indígena

Por Sandra Damiani (Sapopema Comunicação Socioambiental)

Ilustração: Carmen San Thiago

As embarcações a motor viajam por horas a fio nos rios Paraguai e Içana, levando Michely Kaiowá e Francineia Bitencourt Fontes, do povo Baniwa. Afastadas geograficamente por milhares de quilômetros, uma no Pantanal, no estado de Mato Grosso do Sul, e a outra na Amazônia, no Amazonas, elas fizeram uma longa jornada e enfrentaram adversidades para ir até territórios longínquos retratar em vídeo a realidade dos povos indígenas. As duas mulheres fazem parte de um grupo de quatorze cineastas de diferentes etnias que realizaram 15 audiovisuais, abrangendo todos os biomas de norte a sul do Brasil.

A produção dos audiovisuais fez parte do Projeto Terras Indígenas, da GIZ Brasil, realizado em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai). Para isso, apoiou cineastas indígenas com equipamentos e uma bolsa, além de um curso de aprimoramento online e mentoria ao longo de todo processo, conduzido pela Associação Filmes de Quintal.

Os indígenas mostram em vídeo o seu olhar sobre a realidade das aldeias em relação à segurança alimentar e territorial, à cultura, à saúde entre outros temas. O objetivo foi exemplificar in loco como os indígenas vivem os temas presentes na Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), a mais importante política pública nacional para garantir os direitos destes povos e a sustentabilidade de seus territórios. O material didático audiovisual vai ilustrar o curso de formação online sobre a PNGATI, criado pelo projeto para a capacitação de servidores da Funai e de outros públicos que atuam junto aos povos indígenas no Brasil.

Longa jornada para mostrar a vida nas terras indígenas

Michely Kaiowá percorreu seis horas de bote até a Ilha Ínsua onde permaneceu sete dias para documentar a etnia Guató, os últimos povos canoeiros do Pantanal. O que mais a marcou foi a dificuldade de acesso à alimentação. “Eles não têm nada para comer, só peixe e caça quando eles pegam. A cesta básica chega de três em três meses”, relata, explicando que as plantações foram prejudicadas pela forte seca e estiagem. Muitas áreas também foram afetadas pelos grandes incêndios ocorridos no Pantanal. Vivem na Terra Indígena Guató, 419 indígenas, que relataram ainda dificuldades para levar seu artesanato para fora da ilha e vender os produtos.

A cineasta produziu ainda outro filme sobre a medicina tradicional guarani kaiowá em que mostrou ervas, cantos e danças usados pelo seu povo nos rituais de cura. Na Terra Indígena Panambizinho, em Dourados, no estado de Mato Grosso do Sul, vivem 414 pessoas em 1 mil hectares. “Fui ao brejo para mostrar como a gente chega até o remédio.”, diz Michely Kaiowá, que recebeu pelo projeto sua primeira câmera nova com resolução para filmagem em 4K.

Fran Baniwa, como gosta de ser chamada, levou oito horas de barco sob chuva e sol até chegar à aldeia Assunção, na Terra Indígena Rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira, a cidade mais indígena do Brasil, próxima à fronteira com a Colômbia e Venezuela. A primeira ideia de roteiro era explorar a geração de renda com as casas de pimenta na produção de um mix de pimentas especiais, mas não foi possível devido ao alto custo de deslocamento.

A pandemia também dificultou muito o trabalho de Fran Baniwa e dos demais cinegrafistas que visitaram outras terras indígenas. No período das gravações, muitas lideranças deste e de outros povos morreram de Covid 19. Ela priorizou, então, apresentar a arte da cestaria dos Baniwa.

Todas as etapas de produção do artesanato foram documentadas: a coleta na mata e a produção das fibras de arumã, planta que cresce em regiões semi-alagadas; o preparo das fibras, a pigmentação e a tecelagem. O significado de diversos grafismos presentes na arte de cestaria Baniwa foi apresentado. “Foi um processo de aprendizado tanto para os jovens quanto para as pessoas que vão assistir ao documentário porque eu consegui entrevistar os mais sábios que são artesãos e doutores nesta arte. A gente fazia um círculo e o sábio começava a falar e todo mundo estava aprendendo. Foi um momento de troca”, lembra Fran Baniwa, que recebeu equipamentos do projeto.

“Hoje tenho o equipamento completo para continuar e, com isso, melhorar o meu trabalho. Tenho uma arma potente para registro, para continuar produzindo vídeos. Eu ganhei muito com esse projeto, além do reconhecimento, de me fortalecer como mulher indígena e a valorização do meu trabalho como cineasta”, salienta.

Projeto: Promoção da Proteção e Gestão Sustentável em Áreas Indígenas da Amazônia
Parceiro: Agência Nacional do Índio (Fundação Nacional do Índio – FUNAI)
Financiador: Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ, em alemão)

Bioeconomia, inclusão e sustentabilidade

O prefixo bio significa vida. Vida das pessoas, dos animais, das plantas. Quando incluímos a palavra vida à economia, estamos destacando uma nova forma de gerar crescimento a partir de novos modelos de desenvolvimento. Bioeconomia é inclusão e sustentabilidade.

As cadeias de valor conectam produtos, pessoas e histórias em várias regiões do mundo. Um olhar que vai do local para o global e permite construir soluções sustentáveis para atender às demandas das comunidades locais, melhorando seu acesso ao mercado.

“Hoje, no coração da Amazônia, nós temos um projeto que mostra que é possível fazer o desenvolvimento econômico na Amazônia sem degradar o meio ambiente, sem desmatar nossas florestas e respeitando o modo de vida de cada família dos povos e comunidades tradicionais.”
Amiraldo Picanço

Floresta em pé, comunidades e conhecimentos tradicionais respeitados, pequenos produtores com acesso a mercados mais justos e inclusivos. Bioeconomia é a valorização da biodiversidade no presente e garantia de sustentabilidade para as próximas gerações.

Vamos construir hoje o futuro que queremos?

Projeto: Bioeconomia e Cadeias de Valor
Parceiro: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
Financiador: Ministério Federal Alemão para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento (BMZ, em alemão)