Por Sandra Damiani e Elisa Malta
Como fazer com que a linguagem apoie a inclusão de quem mais sofre com as situações de risco, a discriminação e as mudanças climáticas? É o caso das mulheres, especialmente as de baixa renda e negras, que no Brasil são as que mais percebem e vivem as situações de risco em locais vulneráveis aos eventos climáticos extremos. No entanto, em geral, as mulheres são invisibilizadas na comunicação sobre esses eventos, uma vez que a língua portuguesa tem uma estrutura que favorece a exclusão, ao generalizar o plural sempre no masculino.
Essa foi uma das situações que estimulou o Grupo de Trabalho Gênero e Direitos Humanos da GIZ Brasil a criar, em 2020, um manual com recomendações para o uso de linguagem inclusiva e não sexista. O manual, que reúne dicas para comunicações formais e informais, escritas e orais, para e-mails, convites, publicações, relatórios e produção audiovisual, traz um alcance mais amplo do que somente a questão de gênero, incluindo também cuidados para inclusão racial, étnica e da comunidade LGBTQIAPN+.
Desde 2020, pelo menos 360 pessoas foram capacitadas e diversos projetos passaram a adotar as orientações do material em seus produtos de comunicação. A repercussão dos treinamentos gerou resultados surpreendentes. O primeiro guia do judiciário federal no Brasil no tema foi elaborado por um dos consultores capacitados pela GIZ Brasil, levando assim a linguagem inclusiva para fora da instituição. Em 2022, os projetos Cidade Presente e ANDUS promoveram, para a iniciativa Lideranças Femininas Urbanas (ReDUS), um treinamento voltado para mulheres em posição de liderança em prefeituras municipais do Brasil.
Além disso, a GIZ Brasil promoveu ações para a disseminação do uso de legendas em audiovisuais e de tradução simultânea para a Língua Brasileira de Sinais (Libras) em eventos on-line. A experiência obtida mostra que é possível superar as barreiras e ampliar a acessibilidade ao conhecimento produzido pela instituição não só no Brasil, mas também em eventos externos, apresentados simultaneamente em diferentes idiomas.
O Brasil tem 2,2 milhões de pessoas surdas e ensurdecidas, para as quais a linguagem inclusiva é essencial para acessar o conhecimento transmitido oralmente. Em 2021, a nova metodologia foi desafiada para atender a um evento latinoamericano em quatro línguas, duas orais (português e espanhol) e duas em língua de sinais (Libras e lengua de señas, a última utilizada nos países hispânicos da América Latina). A V Conferência Regional de Áreas Protegidas Locais foi realizada pela GIZ, em conjunto com o ICLEI e a União Internacional para a Conservação da Natureza, para Brasil, Colômbia, Peru e Equador.
O uso da língua de sinais na transmissão desse evento provou a viabilidade de duas traduções em sequência: primeiro para o espanhol e português e, depois, para as duas línguas de sinais, garantindo assim que as discussões do evento fossem acessíveis para pessoas surdas e com ensurdecimento nesses quatro países.
Em fevereiro de 2022, a GIZ Brasil teve a primeira experiência de tradução simultânea em Libras em evento sobre eficiência energética em habitações de interesse social. O vídeo, recebeu mais de 1,6 mil visualizações, fato que demonstra que as políticas de inclusão são mais bem sucedidas quando integradas e combinadas em diferentes abordagens.
Projeto:
Grupo de Trabalho de Gênero e Direitos Humanos da GIZ Brasil