O fogo, a seca e a força dos rios: a resistência do povo Guató no Pantanal

Por Andrea Mesquita

Foto: Barbara Banega/IHP

No coração do Pantanal sul-mato-grossense, onde o horizonte se funde com as águas e os céus, vive o povo Guató, um povo de canoas e rios. A aldeia Uberaba, que por séculos testemunhou a dança das águas, enfrenta hoje um cenário diferente. A seca avança como uma ferida aberta, dificultando a pesca, isolando comunidades e alterando profundamente o ritmo da vida.

Em abril, o Projeto Territórios Vivos II, da Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, organizou a Expedição Guató para ouvir e atuar junto às comunidades indígenas da região. Ali, entre conversas à sombra das àrvores, a professora Jorcimari Picolomini, ou Jorci, como é carinhosamente chamada, compartilhou a angústia que o fogo e a seca trouxeram à sua aldeia.

“As queimadas são desafiadoras. Elas destroem a biodiversidade, afetam nossa saúde e reduzem os alimentos que tiramos da pesca e da caça,” contou Jorci, com a voz firme de quem carrega a força do seu povo. “E a seca, cada ano mais severa, nos isola ainda mais. Os rios que antes eram nossa estrada, hoje são obstáculos. Não conseguimos mais passar de barco. Só restam as canoas, mas as distâncias são grandes demais para remar.”

A seca não é apenas uma questão local. Ela é fruto do desmatamento na Amazônia, que interrompe os ciclos dos rios voadores, essenciais para trazer as chuvas que alimentam o Pantanal. Em um cenário de mudanças drásticas, o fogo surge como um inimigo poderoso, ameaçando não apenas o ecossistema, mas também as comunidades que dependem dele.

Dessa Expedição, nasceu uma necessidade urgente: a criação de uma brigada de incêndio. A resposta veio com a criação, pela Funai, de uma brigada na aldeia Uberaba, que treinou os próprios Guató para prevenir e combater os incêndios. Docentes, jovens e artesãs uniram forças para combater um inimigo em comum, mostrando que a resiliência é parte da identidade do povo.

“A brigada é fundamental,” enfatizou Jorci. “Precisamos conscientizar e prevenir as queimadas dentro da reserva. Isso é sobre proteger nossa casa, nossa história e nosso futuro.”

Hoje, a brigada de incêndio não é apenas uma ação técnica, mas um símbolo de resistência. Para o povo Guató, ela representa a luta por seus rios, por seus peixes e pela continuidade de uma vida profundamente conectada à natureza.

Enquanto a seca e o fogo desafiam o Pantanal, o povo Guató resiste com a força de suas tradições, sua união e seu compromisso com a preservação de um bioma que é tanto seu lar quanto sua identidade.

Projetos: Territórios Vivos (Agenda 2030 – contribuição para o princípio leave no one behind)
Parceiros: Ministério Público Federal (MPF) e Rede de Povos e Comunidades Tradicionais
Financiador: Ministério da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha por meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH

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